meu veneno e minha cura

não importa mais o quão louco isso pode parecer, mas se existe um pingo de sanidade que resta, eu vou tentar resumir.
com o passar do tempo eu larguei a ignorância de achar que me conhecia, porque pois bem, até hoje não conheço.
independente do caminho que eu escolha seguir, eu vou ciente que ele é cheio de peças e eu posso transformar isso num quebra-cabeça enriquecedor ou só pisar no lego e chorar pro nada mesmo.

ou eu posso quebrar tudo.
ou construir minhas peças do 0.

infinitas possibilidades, derivando milhões de opções, deixando a gente confusa e no final não sai nada, não fazemos nada e perdemos a direção.
É como estar ao relento num labirinto que você mesmo criou e não sabe resolver, mas alguns caminhos parecem mais fáceis do que outros.
especialmente se o dia que você estava trilhando esse labirinto, te jogaram em outro e quando você conseguiu sair, já não lembra mais como é a saída.

e parece que todo aquele período de reafirmações positivas acaba caindo por terra.
como pode alguém ser tão controverso? eu sou. Mas prefiro pensar como um bônus: você nunca sabe com que lado vai ter que lidar ou qual deles vai aparecer em momentos diferentes.
Eu espero estar sempre triste e muitas vezes me descubro lidando com a situação melhor do que o imaginado. Eu espero não cair na mesma bobagem e lá estou eu na maior intensidade curtindo a fossa. Eu deveria saber me descrever ou como agir, mas nem eu consigo prever porque quando tento já estou imersa numa profundidade de coisas sem tamanho, calculando possibilidades em fração de segundo, pra hora chegar e fazer tudo ao contrário.

parece divertido viver numa montanha russa desgovernada, né? talvez na teoria. até os mais seguros de si acabam caindo na probabilidade do negócio fazer a curva errada e tudo sair do jeito mais inesperado possível. Por isso é uma montanha russa, mas até quem gosta de perigo nunca tá realmente preparado pra sentir algo novo.
É por isso que ficar triste é tão confortável. Você já se sentiu assim em tantas circunstâncias que aquela coisa acaba ficando bem cômoda, porque você já até construiu uma casinha ali, você já convive com a tristeza e sabe quando ela pode entrar, quando pode sair.. mas ela não te obedece, porque você tá como refém ali. Mas as vezes uma chave se materializa e você sai pela porta sem olhar pra trás, feliz por ter se libertado de algo que afligia tanto.
Bom, você vai construir muros mais fortes em outros lugares, abrir outras portas pra outras coisas, e conforme o tempo passa, você talvez queira se mudar pra outro lugar maior, porque ali já não há espaço. É quando você já passou por tanta coisa, que cicatriza a ferida que demorou tanto tempo pra fechar.

É nessa estrada que você lembra daquela casa que te abrigou por tanto tempo, bate uma nostalgia e você estufa o peito de 'eu não vou cair naquele truque e deixar ela me aprisionar de novo. já passei por isso, tá tranquilo' e bem, quando você vê, o carcereiro nesse tempo também teve outros meios de se fortalecer e está lá com você de novo. Te conquistou pelo aconchego, porque era quente, porque era único. Porque na verdade você nunca esqueceu, aquele gosto doce que fica depois de lembrar, mas só não queria sofrer de novo. E está lá fazendo a mesma coisa, de jeitos diferentes, fechando os olhos pra aproveitar o momento, quando secretamente você sabe que fecha o olho pra não enxergar o óbvio.
 porque machuca.
 porque é quase inevitável.

parece tão interessante agora, porque suas memórias ruins sobre o lugar foram parar no núcleo da terra de tão fundo que você cavou pra esconder de si mesma. mas bem, você não lembra de ter feito isso. não lembra de ter auto-defesa.

pode ser um teste da vida, ou pode ser porque você encontra paz no sofrimento. pode ser porque aquela dor carrega algo muito maior, só que você demora a perceber que pode ter sido algo inventado por você mesma. E que não vale a pena insistir porque a tristeza não vai sair dali por vontade própria - você só não quer admitir que você abriu brecha pra ela voltar e se instalar, e só você consegue expulsar. Só que se ela for embora, ela leva essa casa, a mesma casa que você acha confortável.

É o preço a se pagar, não? Você acaba esquecendo que conseguiu sair dali um dia e que morou em outros lugares. Alguns que te ofereceram o mesmo conforto, mas não foi a mesma coisa e nada parece tão interessante quanto foi esse lugar. Nada tem um magnetismo como aquele, você deixou vários pedaços seus ali e ainda se prometeu decorar do seu jeito no futuro, o mesmo futuro que nunca chegou e agora ele pode acontecer.

Bem, com a experiência de outros cenários, você tenta implementar tudo o que aprendeu e viveu até então pra tornar o lugar mais convidativo, de forma que não vá mais ferir ter que ficar ali. Um lugar que você possa morar e deixar a porta aberta, sem se sentir presa, e sim livre pra viver e voltar pra casa onde é seu porto seguro.
Mas querida, você escolheu a casa errada.
É quando você tenta abrir uma janela e ela vai emperrando, quando você tenta respirar ali dentro e já não tem mais ar. Você está dominada de novo e bem, isso te custa quase tudo, incluindo sua capacidade de ser você mesma.

cadê, menina, aquele vento que ficava batendo no seu rosto quando você corria solta tentando redescobrir um lugar novo pra ficar? porque, menina, era nessa hora que você tinha que se ligar que você não pertence a lugar nenhum. Você pode ter semeado suas melhores flores e frutos naquele lugar, mas murchou e morreu. Você não nasceu pra ser prisioneira e achar isso bom - desde criança com essa síndrome de estocolmo, porra? Sério que a gente se contenta em ser pequena e contida assim?

É você, essa casa, esse veneno, e ao mesmo tempo a cura. Você deu o chão que eu queria, me ofereceu moradia, me aqueceu no frio. Me deixou dormir confortável. Eu mal percebi que já não conseguia mais viver sem aquilo e, quando me dei conta, o chão sumiu engolindo isso tudo porque você preferiu assim.
A desabrigada achou quem estendesse a mão e desse um teto. Quem oferecesse um cobertor, mas não era a mesma coisa.
Quando eu resolvi colocar lenha na minha própria fogueira e não depender do calor de nada, nem ninguém
...reapareceu. Mudado, por assim dizer, mas ainda parecia algo que eu procurava.
Por fora, a pintura impecável, robusto e maior do que nunca.
Por dentro, o que parecia desagradável antes, era insuportável agora. Parece que pisaram em tudo que eu tentei colocar ali e deixaram criar pragas. Será que a estrutura dessa casa não pode ser melhorada? Eu devo entregar pras traças mesmo?

A gente tira da cartola aquela coisa mágica de achar a casa linda mesmo assim e bem, vamos reformar pra ficar sustentável pros dois.
Mas não dá. não dá. Acabou o seu material.
A base daquela casa é daquele jeito, e não é nada do que eu procuro. Não é nada do que eu quero, não é assim que eu sonhei. Não posso ficar aqui. Não é porque ela é frágil - é porque ela quer uma estrutura da qual eu não suporto. Sou claustrofóbica! Não quero me contentar com essas paredes me cercando e me ditando um caminho porque sei que tem outros e eu quero decidir qual seguir!
Mas me custa sair, porque a esperança nunca morre. Só que eu sei muito bem o que é viver num ambiente onde você tenta crescer e te encolhem - como a poção da Alice.
Mas quando achamos a poção contrária, te faz crescer maior do que o tamanho disso tudo e você quebra o telhado.

Você não quer deixar buracos nessa casa mas não deixe de se lembrar de todos os vazios que ela já te deixou. De todas as vezes que as janelas bateram quando você só queria olhar pras possibilidades do mundo lá fora. De quando você ousou sonhar e bem, não te acompanharam e nem te deixaram sonhar.



------ o update é que essa casa já não existe mais, só nas lembranças e eu continuo livre para morar onde meu coração se alojar. Enquanto isso não acontece, seguimos desbravando todos os caminhos que me levem à felicidade e bem estar.
Esse rascunho é do ano passado, até onde me lembro. E fico feliz de postar aqui para simbolizar o encerramento de um ciclo da minha vida, onde se eu sentir que estou voltando pra mesma armadilha, posso vir e ler o quão destrutivo isso é. 

Parabéns para mim por ter conseguido ter a força de um trator e passar por cima, demolindo esse muro que me impossibilitava de viver. <3 font="" nbsp="">

Não me arrependo, mas não faria novamente. 
Tudo é aprendizado, mas algumas coisas não precisam se repetir. Essa é uma delas. 

Andiamo via... 

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